“A estratégia de César” , por João Mendonça Gonçalves

                                                                                 A estratégia de César

 
As próximas eleições regionais podem ficar marcadas por uma mudança de ciclo político. À semelhança do que aconteceu em 1996, com a saída em definitivo de cena de João Bosco Mota Amaral, da primeira linha da vida política regional, também agora nasce a oportunidade de se iniciar uma nova etapa nos Açores. Carlos César é, com todos os seus defeitos e qualidades, o rosto de um período de progresso e de grande desenvolvimento para o Arquipélago. É também o rosto, e isso resulta muito das maiorias absolutas sucessivamente conquistadas, da castração de uma sociedade civil livre e plural. Não me custa reconhecer os seus méritos. Mas não posso esconder que os governos de César (em regra, são assim que se comportam os governos absolutos), acabaram por fazer eclipsar as células vivas da sociedade: as instituições, as associações, e, numa perspectiva liberal, os indivíduos.

Tudo dependerá do que os açorianos decidirem em Outubro deste ano. Embora, verdade seja dita, que Vasco Cordeiro representa, em pior versão, um Carlos César dos pequeninos. E digo-o com todo o respeito. Onde um tinha firmeza a mais, o outro tem-na a menos. Onde César era astuto, Cordeiro faz jus ao nome. Onde César tem resultados, Vasco acumula fracassos (transportes, desempenho económico, desemprego… and so on!)

Não podendo César recandidatar-se (devido à limitação de mandatos prevista no Estatuto Político-Administrativo dos Açores), avançou Vasco Cordeiro: sem Congresso, escolhido à porta-fechada, numa (ingénua) jogada do PS/Açores, previsivelmente, para retirar espaço a qualquer contestação interna (já que Sérgio Ávila e José Contente poderiam baralhar as contas). Ganha o PSD que poderá fazer não esquecer ao eleitorado a falta de legitimidade do candidato socialista, ou melhor, a legitimidade reduzida de quem se pretende candidatar a Presidente do Governo Regional. Enfraquecida estava, enfraquecida está. Não poderia haver uma melhor oportunidade para fazer uma viragem no panorama político açoriano.

Nas conversas de bastidores do PS, a tensão e a preocupação aumentam. Não é certa a vitória do PS, e Carlos César pode mesmo sair definitivamente do palco. A ideia, que percorre alguns dos seus fiéis, de que César eleger-se-á deputado e chegará a Presidente da Assembleia Legislativa Regional (porque a política passará pela ALRA, à falta de dinheiro – uma realidade que rebentará mais cedo do que tarde – vejam-se as críticas do Tribunal de Contas acerca de encargos futuros desorçamentados no valor de 3 biliões) para poder continuar a mandar atrás da cortina, é uma ideia que pode cair por terra se o PS não conseguir vencer as próximas eleições ou se não conseguir um acordo, de circunstância, com o CDS/PP. A ilusão, alimentada no consulado de Sócrates, de que César poderia transitar para o Governo da República, ou mesmo aspirar a uma candidatura presidencial, faz lembrar a história de quem tudo quer, tudo perde. E uma vez mais, a história parece vir a repetir-se. É o que dá querer ser magnânimo…

Veremos o que se passará em campanha.

Já estamos habituados a que nestas, tudo valha. Não esperaria era que começasse tão cedo. Não é que, não só as acções do Governo parecem estar a cargo de Vasco Cordeiro (para começar a ganhar notoriedade) como foi lançado um jornal, o Jornal Açores 9 (e tantos são os jornais ditos independentes lançados, misteriosamente, a um ano de eleições), de propaganda socialista, alimentando a publicidade e notícias do Governo Regional. É inacreditável! Pensei, ingenuamente, que existiriam limites para o descaramento para se fazerem estas habilidades. Com uma tiragem de 50.000 exemplares, os CTT como parceiros de distribuição e com um teor manifestamente propagandístico, só falta anunciarem mesmo a criação do Ministério do Amor, da Paz e, porque não, da Verdade. Com respeito pelos colunistas que se prestaram a esse serviço (e por alguns, até tenho estima pessoal), essa forma de fazer política, utilizando o dinheiro de cada um de nós, devia há muito ter sido banida. Faça-se política. Mas com igualdade de armas. Numa sociedade verdadeiramente livre e esclarecida, isso mereceria um imediato repúdio e a vergonha geral dos militantes de um Partido que muito contribuiu para a democratização do nosso País.

 

João Mendonça Gonçalves

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