Onde estava(s) no domingo? – por Miguel Sousa Azevedo

votoQuatro em cada cinco açorianos ficaram em casa no dia de eleger os 21 deputados que, nos próximos cinco anos, farão por representar Portugal no colosso europeu. Em média, é isso que se pode apreciar nos resultados e contagens do sufrágio do passado domingo, onde a abstenção ultrapassou os 80% no arquipélago, superando em muito o já aberrante valor nacional. Em média, também se pode concluir que quatro em cada cinco açorianos se estão a marimbar para eleger eurodeputados, se estão a marimbar para os Açores ou se estão mesmo a marimbar para Portugal, no âmbito do colosso europeu. E isto, num inédito alinhar de nomes e personalidades – uns mais notáveis que outros -, em que os dois candidatos indicados pelas maiores forças políticas na Região tinham a eleição garantida. E em lugar de destaque nas listas do PS – que venceu as eleições – e da coligação “Aliança Portugal” – que as perdeu -, respetivamente.

Nos dias subsequentes à eleição – para quem não sabe, foi o domingo, dia 25… – dos referidos eurodeputados, os comentadores e analistas desdobram-se em razões e contradições para explicar uma vitória do PS…que – segundo alguns – também perdeu as eleições, ou a esperada derrota da coligação que governa o país…que não perdeu assim tanto – segundo outros -. Ou mesmo segundo os mesmos. Uma “vitória de Pirro” passou, assim, a ser uma expressão usual na lusa pátria. Afinal quem nunca ganhou com perdas…no salário ou nos abonos, por exemplo?

A minha questão é simples e amplamente local, focada numa Região onde as tropas do poder se arregimentam a cada eleição, permitindo maiorias e vitórias sucessivas, às quais se sucederão a paga do respetivo favor. Pois nem assim. Nem assim se assistiu ao grito redundante de revolta dos açorianos face a Lisboa, ao “cartão amarelo” pedido pela demagogia habitual de confundir as pessoas na hora de votar, à punição exemplar do governo centralista que prejudica a Região como nunca ninguém fizera antes. Pois, nem assim…

Na básica interpretação, pessoal está claro, que tenho do exercer da abstenção, situo o ato nos antípodas do direito democrático de votar. Em média, posso achar que o abstencionista ficou em casa, desgostoso e revoltado com os políticos e a situação nacional, lavrando assim o seu silencioso protesto. Mas em média também posso achar que o abstencionista fez uma noitada e acordou mal disposto e com olheiras, ou seja sem a mínima vontade de exercer o seu dever cívico, um dos poucos que lhe restam. Neste caso, o abstencionista foi um preguiçoso cívico. E ninguém lhe retira o rótulo Por mais que barafuste, resmungue e destile ódios ou emoções. Porque, em média, o abstencionista não pôs lá os pés. Simplesmente porque não quis…

 

Miguel Sousa Azevedo, in http://portodaspipas.blogs.sapo.pt/

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