Romeiros iniciam caminhada de fé

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 Mais de meia centena de ranchos de romeiros de freguesias de São Miguel, nos Açores, fazem-se à estrada, a partir de sábado, numa caminhada de fé, iniciada no século XVI e que atrai cada vez mais jovens.

Todos os anos, e durante uma semana, grupos de homens dão a volta à maior ilha açoriana, trajando uma indumentária tradicional (xaile, lenço, saco para os alimentos, bordão e terço) em cumprimento de promessas ou numa jornada de meditação.

 

Até à Páscoa vão sair todas as semanas mais de 10 ranchos por cada freguesia da ilha de São Miguel, pernoitando em casas particulares ou salões paroquiais.

 

Gonçalo, 9 anos, sai este ano pela primeira vez num rancho da Ribeirinha (concelho da Ribeira Grande) e admite estar um pouco nervoso, depois de ter sido desafiado pelo primo Filipe, um “experiente” romeiro.

 

“Vou com gosto e fé”, confessou à agência Lusa o jovem romeiro, que já tem a roupa pronta para a caminhada.

 

Mais experiente, o primo Filipe, 13 anos, reconhece que “há momentos” em que chega a pensar em desistir, devido às dificuldades encontradas ao longo do percurso.

 

“Fica difícil caminhar com mau tempo e quando se formam as bolhas nos pés”, conta Filipe, que este ano vai pela quarta vez numa romaria, razão pela qual se torna “mais fácil” enfrentar a caminhada, porque “já está mais habituado”.

 

Na Ribeirinha o rancho é composto por mais de 60 “irmãos”, 60 por cento dos quais crianças e jovens.

 

“Este rancho já sai desde 1957. Nos últimos anos incorpora cada vez mais jovens”, assinala à Lusa o “mestre” Hermínio Sousa, 58 anos, romeiro há mais de 40.

 

Mestre Hermínio Sousa não tem dúvidas: “Há cada vez mais gente nova a participar nas romarias”, constata com satisfação e curiosidade, tendo em conta que se trata de “um longo percurso, feito muitas vezes com mau tempo”.

 

Desde a idade escolar que as romarias ficaram “marcadas no seu íntimo”.

 

“O regulamento não estipula nem idade mínima nem máxima, mas a partir dos 9 anos já começam a interiorizar este acto de fé, estimulados por familiares, amigos e padres da paróquia”, observa.

 

Hermínio Sousa assegura que “ninguém participa numa romaria por obrigação” e normalmente “quem vai pela primeira vez nunca mais deixa de cumprir” a tradição.

 

“Acaba por ser um chamamento do alto”, remata Hermínio Sousa, alertando porém que a presença dos jovens “não pode constituir um subterfúgio à escola, já que é concedida dispensa”.

 

Também os funcionários públicos açorianos que queiram participar nas tradicionais Romarias da Quaresma estão dispensados de serviço, por despacho do presidente do Governo Regional.

 

Durante uma semana e até à Páscoa, ranchos de romeiros tradicionalmente integrados por homens, caminham pelas estradas de São Miguel, entoando cânticos e rezando.

 

 

in Lusa

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