A Universidade dos Açores – por Mário Soares

mario-soaresA convite do magnífico reitor da Universidade dos Açores, Avelino de Meneses, estive três dias no Faial, cidade da Horta – no Departamento de Oceanografia e Pescas, dirigido pelo pró-reitor, Prof. Ricardo Serrão Santos – para assistir e ser padrinho, do doutoramento honoris causa atribuído ao Prof. Mário Ruivo, reputado biólogo e oceanógrafo, de quem sou amigo, desde a juventude, no pós-II Guerra Mundial, em que criámos o MUD Juvenil, movimento de jovens antifascistas contra o salazarismo.

 

Apesar de estar um frio imenso, chuva e um espesso nevoeiro, foram três dias muito instrutivos e bem passados no Faial. Pude visitar, guiado por uma qualificada cicerone, com ampla formação científica, o antigo farol do Capelinhos, destruído pelo célebre vulcão do mesmo nome, que o Governo Regional, presidido pelo meu amigo e camarada Carlos César, resolveu transformar, em 2007, num Centro de Interpretação do Vulcão, verdadeiramente de excelência, para o conhecimento dos fenómenos vulcânicos, não só no mar dos Açores como a nível mundial.

 

Sucede que estive acompanhado pelo secretário regional do Ambiente e do Mar, José Gabriel Meneses, por ilustres investigadores, oceanógrafos e geólogos do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade e por outros cientistas e universitários que vieram do Continente, para a celebração do 34.º aniversário da criação da universidade.

 

Mais do que conversar com eles, pude fazer-lhes perguntas, sobre as potencialidades futuras do oceano, a que me responderam com muita clareza e precisão. Aprendi muito, nesses escassos dias que passámos na Horta, bloqueados pelo intenso nevoeiro – custos da insularidade – sobre o mar dos Açores, os vulcões já extintos ou em actividade, e as imensas potencialidades do Atlântico.

 

A Universidade dos Açores é hoje respeitada internacionalmente – tem professores e investigadores de várias partes do mundo – e nomeadamente o seu prestigiado Departamento de Oceanografia e Pescas, que está em ligação com centros de investigação e universidades estrangeiras, entre as mais avançadas, e em vias de trazer para o Faial o Centro Europeu de Estudos de Mar Profundo, velha ambição do Prof. Mário Ruivo.

 

Infelizmente, o ministro Mariano Gago só conseguiu chegar ao Faial, vindo por mar, desde o Pico, depois da cerimónia do doutoramento concedido a Mário Ruivo. 

O secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, Marcos Perestrello, nem sequer lá conseguiu chegar. Mas o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior chegou ainda a tempo de se cruzar comigo e assistir ao Conselho de Reitores das Universidades portuguesas que ali se reuniu na tarde do mesmo dia.

Com a lucidez que o caracteriza, percebeu há muito tempo a importância que hoje tem o mar para o desenvolvimento de Portugal, dada a nossa imensa área marítima, tanto a Zona Económica Exclusiva como a Plataforma Continental, que o conhecimento científico do Atlântico indica nos pertencer. Fez, aliás, declarações pertinentes sobre a necessidade de estimular o conhecimento nessa área tão privilegiada e ainda desconhecida. E anunciou a intenção de lançar um programa nacional sobre Ciências do Mar Profundo, com meios financeiros, vocacionado para a investigação dos recursos biológicos e minerais, de uma importância fundamental para o desenvolvimento de Portugal.

 

Num tempo de incerteza e crise global, que tem conduzido tantos intelectuais e economistas ao derrotismo mais negro e a um impasse político, em que se debatem tantas pequenas ambições partidárias ou pessoais, mesquinhas, é estimulante este vento que vem da Universidade dos Açores, que nos traz conhecimento, nos aponta novas virtualidades e nos rasga horizontes de progresso. Mostrando, assim, que o oceano Atlântico, que fala português, como dizia Pessoa, continua a ser um dos destinos mais privilegiados de Portugal e da lusofonia.

 

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