Artigo de opinião de Paulo de Sousa Mendes, candidato pelo Bloco de Esquerda/Açores ao PE

seca

Afinal, o oásis era uma miragem

 

Ninguém duvidará que é bom ser-se açoriano, mas muitos se questionarão se será bom viver nos Açores. Numa região, que ao contrário do comummente apregoado, não é exactamente um oásis, num país fragilizado, onde é cada vez mais difícil, para as pessoas alcançarem os seus objectivos.

 

     Recentemente, tivemos a confirmação do que há muito se suspeitava. O desemprego aumentou de forma drástica nos Açores, no período de um ano (52%). As ilhas do grupo central são as mais afectadas e em que a maior parte dos desempregados são jovens (54% dos inscritos nos Centros de emprego tinham menos de 34 anos de idade). Esta é uma realidade que não valerá a pena tentar mascarar, nem fazer “malabarismos” com os números. Ainda mais, quando todos nós já a sentíamos há demasiado tempo, apesar das manobras de propaganda habituais que já se tornavam ridículas de tão desajustadas que estavam desta realidade.

 

     Não se trata de se ser catastrofista. Principalmente, quando sabemos que além do desemprego crescente, o emprego que temos é precário e «mal pago». Quando a oferta de emprego é, em muito, inferior à procura e quando temos um Código de Trabalho, promovido e aprovado pelos «mais ou menos» socialistas. Um Código de Trabalho que facilita a prática de “lay-off” e instaura bancos de horas, sem direito a qualquer compensação pecuniária, por parte dos trabalhadores pelo seu trabalho extraordinário. Estão, desta forma, criadas condições únicas para que se coloquem trabalhadores contra trabalhadores, num cenário, em que empregadores menos escrupulosos dividem para conquistar mão-de-obra barata.

 

     Se até há relativamente pouco tempo, a qualificação académica e profissional garantia emprego estável e devidamente remunerado. Actualmente, parece não trazer qualquer mais-valia para os jovens que tentam a sua integração num mercado de trabalho, que tarda em valorizá-los.

 

     A aposta na investigação científica parece ser uma aposta consistente quer do Governo «mais ou menos» socialista da República, quer do Governo «mais do menos» Regional. Contudo, subsistem imensos jovens bolseiros investigadores, que usufruem de um sistema de protecção social, ainda deficitário. Além, de não conhecerem qualquer estabilidade profissional ou qualquer perspectiva de uma carreira cientifica digna. Preocupante será, ainda, o futuro da investigação científica nacional que se encontra dependente de fundos europeus, os quais terminarão em 2013, sem que se assista a qualquer sinal de comprometimento político, por parte de quem nos governa.

 

     Numa semana, em que tanto se falou da falta de participação política dos jovens, é mais do que evidente que não se poderá esperar que se sintam motivados e muito menos implicados, politicamente, quando não se encontram preenchidas as suas necessidades mais básicas, como a estabilidade laboral (perspectiva de carreira) e a dignificação do seu trabalho. Será somente possível incentivar o interesse pela participação politica, quando auferirem de uma remuneração compensatória do seu trabalho, que lhes permita ter uma vida digna, para que deixem de viver na incerteza, numa região, onde o tráfico de influências é comum, sem ser, contudo assumido como uma barreira ao nosso desenvolvimento. Aliás, à semelhança de outros problemas (toxicodependência, aborto, gravidez e maternidade na adolescência, violência doméstica, etc.), os quais só muito a custo e depois das evidências se terem acumulado é que foram, finalmente assumidos e, só há relativamente pouco tempo é que se iniciaram alguns esforços de intervenção com o intuito de os resolver ou minorar.

 

     Ninguém é livre, produtivo, criativo e responsável sem que sinta segurança no seu trabalho. Actualmente, não estão reunidas as condições essenciais para que as pessoas e, especialmente, os jovens sintam necessidade de se expressarem e participarem politicamente. Ou vivem, ainda, dependentes dos pais, porque não têm condições financeiras para alugar ou comprar casa própria e/ou não têm uma ocupação profissional estável, o que os obriga a viver na “corda bamba”. São, por isso, escravos do banco, do “junco verde” e do contrato de trabalho a termo.

     Querem contar com a participação cívica e politica das pessoas? Então assegurem-lhes as condições mais básicas ou será que há alguém que ganha em ter as pessoas acorrentadas, desmotivadas e indisponíveis para a construção de uma sociedade para todos? Apelar à participação politica das pessoas poderá parecer hipócrita, se não forem atendidas as necessidades mais básicas, somente alteradas através das decisões e prioridades politicas.

PS: Por falar em prioridades políticas. Parece que para alguns, a prioridade politica é a legalização da “sorte de varas”. De facto, esses “alguns” parecem mover montanhas para alcançarem um luxo que é, no mínimo, sórdido e que tem sido “vendido” como uma prioridade politica aos órgãos de comunicação social, num país e numa região em crise. Na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores têm sido discutidas matérias, incontestavelmente, muito mais prioritárias e que não têm merecido a mesma atenção. Mais uma vez, se está a tentar enganar o povo, como se o povo gostasse de «papas e bolos». Mas, convém não esquecer de quem gosta de «papas e bolos» são os… e o povo, de certeza, não o é.

 

 

 

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