Artigo de Opinião | “Se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha” – por Patrícia Miranda

Passados 6 meses de governação este executivo descobriu que, afinal, o preço do leite nos Açores, e de modo geral em todo o Pais, é, de facto, o mais baixo de toda a Europa. O reconhecimento de um problema, por si só, já é um primeiro passo. Infeliz é vermos esse problema ficar apenas pelo seu reconhecimento, porque apresentar soluções, isso já é outro capítulo.
É sempre mais fácil culpar os outros ou empurrar os problemas para a frente com desculpas que em nada tranquilizam o setor. É muito triste ver um problema de tamanha importância, que merece todo o nosso respeito e dedicação ser tratado com a leviandade de uma carta e, simplesmente, ficar a aguarda a sua resposta.
A evolução do preço do leite, a nível europeu e mundial, tem apresentado sinais positivos. Só temos que trabalhar neste sentido e, por vezes, bastam pequenas ideias para fazerem grandes diferenças. Basta de apresentar apenas sugestões que funcionam como cuidados paliativos, o setor precisa de mais, precisa de soluções que deem a merecida estabilidade a quem dele depende. Porque, preocupam-nos as promoções que desvalorizam o leite e os seus derivados de uma forma permanente, bem como a ausência de dinâmica e estratégia que nos permita ter esperança no futuro do setor.
Vemos por parte da indústria e da distribuição uma atitude de resolução dos próprios problemas sem qualquer preocupação com os produtores. É inglório, para qualquer intermediário do setor, pensar que salvando-se a si próprio e deixando os outros
caírem, pode triunfar!
Acreditamos que esta profunda e persistente crise só poderá ser ultrapassada se todo o setor do leite e lacticínios – produção, indústria e distribuição – for capaz de se unir para definir uma estratégia conjunta para um futuro sustentável para a produção de leite nos Açores, que passe pela valorização dos nossos produtos, enquanto excelência, e partilha do valor com o produtor através de um preço justo. Para isso, contamos com o apoio do Governo Regional e todas as forças políticas, para atingir estes objetivos, para que seja rapidamente possível subir o preço do leite ao produtor.
Apelamos à indústria e à distribuição, para que os mais fortes não caiam na tentação de ao tentar salvar-se, deixarem a produção afundar-se em preços cada vez mais baixos. É impensável que neste momento tão delicado, os esforços não sejam repartidos e que a primeira reação seja a transferência, inoportuna, de eventuais consequências para o elo menos dominante de toda a cadeia: o produtor. Porque apesar dos mercados serem livres, não podem, nem devem, deixar de ser justos!
Sentimos um aumento da procura de leite por parte das grandes superfícies comerciais, que procuram garantir o abastecimento regular das suas lojas com leite dos Açores, respondendo assim à preferência do consumidor, mas continuamos durante todo o ano com preços abaixo dos custos de produção e da média nacional e europeia.
Temos de nos capacitar que parte da valorização dos nossos produtos passará, principalmente, pelo aumento do preço do leite nas grandes superfícies.
A cada ano que passa os Açores perdem produtores. As famílias, que resistem, têm cada vez mais dificuldades em encontrar mão-de-obra disponível para trabalharem no setor.

Assim, por todos os produtores que não desistiram, por todos aqueles que todos os dias lutam na esperança de um futuro melhor:

Apelamos ao Governo Regional, à indústria e à distribuição que deem um passo em frente. Desafiamos o Governo a apelar à responsabilidade social e aos contratos de confiança, numa altura em que os valores da solidariedade e da defesa da coesão socioeconómica não devem ser postos em causa, por um mercado responsável e solidário com todos os intervenientes, que impeça futuras crises de escoamento e preços excessivamente baixos à produção.
Apelamos ao Governo Regional, que juntamente com a indústria, defina muito bem o que quer para a produção de leite e lacticínios, e que seja capaz, juntamente com a distribuição, de valorizar mais o nosso produto, para que nas prateleiras do
supermercado o preço à venda possa ser o reflexo dessa valorização. Porque não basta quererem vender/comprar um produto de excelência, é preciso pagar por ele!
Apelamos a toda a população para que divulguem a preferência e a importância dos nossos produtos regionais, mostrando apreço pelos mesmos e reconhecimento pelo trabalho dos nossos Agricultores! É responsabilidade de todos nós ter uma visão de proteção e valorização do que é nosso!
E, apelamos a quem de direito, que quando não for possível a montanha vir até nós, que sejamos capazes, mediante o nosso poder e fazendo valer a nossa posição e as nossas capacidades, de ir até à Montanha!

 

 

Patrícia Miranda

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