A operação, executada por um comando especializado, foi planeada e executada com grande sigilo. O governo paquistanês só foi informado depois da acção, revelaram fontes em Washington e em Islamabad.
As forças norte-americanas no mundo inteiro foram colocadas em alerta em consequência dos riscos de atentados depois do anúncio que põe fim a quase uma década de obsessiva caça ao homem mais procurado do mundo.
“Boa noite. Esta noite, posso anunciar ao povo americano e ao mundo que os Estados Unidos conduziram uma operação que matou Osama bin Laden, o líder da Al-Qaeda, um terrorista que é responsável pelo assassinato de milhares de homens, mulheres e crianças inocentes”, declarou Barack Obama num anúncio solene à nação a partir da Casa Branca.
Bin Laden, que completou 54 anos a 10 de Março, foi encontrado numa casa muito protegida na cidade de Abbottabad, a 50 km da capital paquistanesa.
A operação norte-americana durou 40 minutos e terminou com a morte de outras quatro pessoas, incluindo dois auxiliares de Bin Laden e um filho do líder extremista de origem saudita.
O corpo do líder da Al-Qaeda foi retirado da residência de helicóptero e sepultado em alto mar, seguindo os rituais muçulmanos, informaram fontes oficiais, citadas pela imprensa americana.
“Hoje, sob minha orientação, os Estados Unidos lançaram uma operação contra aquele complexo em Abbottabad, Paquistão. Uma pequena equipa de americanos conduziu a operação com extraordinária coragem e capacidade. Nenhum americano ficou ferido. Tiveram o cuidado de evitar vítimas civis”, explicou Obama.
O comando que executou a operação, planeada durante meses, pertence às forças especiais da Marinha americana.
Sabe-se agora que operação começou a ser delineada em Agosto do ano passado, quando o governo americano conseguiu uma pista decisiva do paradeiro do chefe da Al-Qaeda.
Durante meses, as forças de inteligência trabalharam intensamente para ter certeza de que o objectivo era Bin Laden, segundo Obama. O presidente autorizou a operação secreta na sexta-feira.
“Depois de um tiroteio, mataram Osama bin Laden e assumiram a custódia do seu corpo. A justiça foi feita”, afirmou Obama.
O ex-presidente George W. Bush (2001-2009) reagiu imediatamente à notícia, afirmando que a morte do terrorista mais procurado do mundo é uma vitória para os Estados Unidos.
Bush, que iniciou a chamada “guerra ao terror” para caçar os líderes da Al-Qaeda depois do 11 de Setembro de 2001, quando quase 3.000 pessoas morreram nos atentados em Nova Iorque, Washington e Pensilvânia, disse que foi pessoalmente informado da notícia por Barack Obama.
“Dei-lhe os parabéns e aos homens e mulheres das comunidades militares e que dedicaram as suas vidas a essa missão. Eles têm a nossa eterna gratidão”, declarou ainda.
Os Estados Unidos iniciaram uma rápida guerra no Afeganistão poucas semanas depois dos atentados, em 2001, que mudaram radicalmente o panorama geopolítico mundial.
Bin Laden não foi capturado durante esta guerra, que ainda prossegue, e a caça ao terrorista acabou por se transformar numa operação de longo prazo que mobilizou todas as forças de inteligência americanas.
“A notícia da morte de Osama Bin Laden é um grande alívio para os povos do mundo. Osama Bin Laden era responsável pelas piores atrocidades terroristas no mundo: o 11 de Setembro e tantos outros atentados que custaram milhares de vida, incluindo inúmeros britânicos”, declarou o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron.
“A morte de Osama Bin Laden é uma grande conquista na luta contra o terrorismo no mundo”, afirmam em um comunicado conjunto o presidente da União Europeia (UE), Herman Van Rompuy, e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.
Os governos da Itália e da Espanha afirmaram esta segunda-feira que consideram a morte de Bin Laden um grande resultado na luta contra o mal e um passo decisivo no combate ao terrorismo.
Para o Vaticano, o líder da Al-Qaeda teve “grave responsabilidade” na propagação da “divisão e do ódio entre os povos”.
“Osama Bin Laden teve, como sabemos todos, uma grave responsabilidade na propagação da divisão e do ódio entre os povos, causando a morte de muitas pessoas e instrumentalizando a religião para alcançar este objectivo”, destacou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi. “No entanto, diante da morte de um homem, um cristão nunca pode estar feliz”.
A morte de Bin Laden foi um “grande triunfo”, afirmou o primeiro-ministro paquistanês, Syed Yusuf Raza, apesar de o seu governo ter reconhecido que não sabia nada sobre a operação.
O governo da Índia aproveitou a oportunidade para destacar que a morte do chefe da Al-Qaeda perto de Islamabad é uma prova a mais de que os terroristas encontram refúgio no Paquistão.
“Bin Laden pagou pelas suas acções”, afirmou o presidente afegão, Hamid Karzai, que aproveitou a oportunidade para pedir aos talibãs o fim dos combates.
O presidente norte-americano deu assim esta manhã uma das notícias mais aguardadas pelos cidadãos americanos, nas fez questão de salvaguardar as diferenças entre Bin Laden e a religião. A morte de Bin Laden, um muçulmano fundamentalista nascido em uma rica família saudita, não foi uma ataque contra o islão, destacou Obama no discurso.
“Bin Laden não era um líder muçulmano, era um assassino de muçulmanos”, afirmou Obama. “A sua morte não marca o fim dos nossos esforços. Não há dúvida de que a Al-Qaeda continuará a atacar-nos. Devemos permanecer vigilantes, tanto em casa como no exterior, e assim o faremos”, completou.
O Departamento de Estado americano emitiu um alerta global de viagens a todos os cidadãos americanos depois da notícia da morte do líder da Al-Qaeda, advertindo sobre um “aumento potencial” da violência antiamericana.
A Interpol pediu mais medidas de segurança, alertando que a morte de Osama bin Laden pode provocar uma intensificação dos ataques através do mundo.
Em Washington e Nova Iorque, assim como noutras cidades americanas, uma explosão de alegria segiu-se ao anúncio da notícia. “Nunca senti uma emoção igual em minha vida”, declarou John Kelley, um estudante de 19 anos, frente à Casa Branca. “É algo que esperamos por muito tempo”, acrescentou.
Uma vitória histórica, que uma jovem norte-americana resumiu à Agência France Presse (AFP), do centro de Nova Iorque, em Times Square: “Os atentados mudaram Nova Iorque, mas 10 anos depois nós tivemos a última palavra”.
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