Eurogrupo acorda fundo de recuperação mas pede à UE que decida financiamento

O Eurogrupo acordou hoje a criação de um fundo de recuperação após a crise gerada pela covid-19, mas pediu aos líderes europeus para decidirem “o financiamento mais apropriado”, se através da emissão de dívida ou de “formas alternativas”.

“Acordámos a criação de um fundo de recuperação, que irá alavancar a nossa economia e os investimentos que precisamos”, anunciou o presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, falando em videoconferência após a reunião dos ministros das Finanças europeus, que começou na terça-feira e esteve, entretanto, suspensa até ter sido retomada esta noite.

Frisando que “este será um fundo temporário e ligado às despesas da covid-19”, o também ministro das Finanças português indicou que caberá aos chefes de Governo e de Estado da União Europeia (UE) decidir qual o seu financiamento.

Isto porque “alguns Estados-membros expressaram que o fundo deveria ser suportado pela emissão de dívida conjunta [os chamados ‘eurobonds’ ou ‘coronabonds’], enquanto outros defenderam formas alternativas”, referiu Mário Centeno, num resumo das posições divergentes.

O líder do fórum dos ministros da zona euro – que nestas discussões tem funcionado num formato alargado – vincou que os responsáveis presentes na reunião “concordaram que é preciso delinear algo novo”.

“Agora aguardamos as diretrizes do Conselho Europeu porque há formas diferentes de suportar este fundo e temos de discutir o financiamento apropriado”, acrescentou.

Vincando que “a dimensão da crise dependerá sempre da duração dos bloqueios” nos países, dadas as medidas nacionais de emergência adotadas para tentar conter a pandemia, Mário Centeno salientou que o foco agora “é em lutar contra o vírus”.

“E assim que começarmos a retomar [a vida quotidiana], conseguiremos determinar a dimensão deste fundo e ele deverá estar disponível assim que começarmos a recuperação” económica, adiantou Mário Centeno.

Ainda assim, admitiu: “Será uma crise muito profunda, embora temporária”.

Também através de videoconferência de imprensa, o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, frisou que este fundo possibilita a “escala de intervenção que a UE precisa para relançar a sua economia”.

E, apesar de o financiamento ainda ter de ser decidido, ficou “uma coisa clara” para o representante do executivo comunitário nas discussões.

“Esta é uma crise assimétrica e o fundo de recuperação vem garantir que não existem consequências assimétricas, que seriam perigosas para a nossa UE”, destacou, falando em solidariedade europeia.

Sobre o financiamento, Paolo Gentiloni defendeu que sejam consideradas as verbas do orçamento da UE a longo prazo, o quadro financeiro plurianual 2021-2027.

Paolo Gentiloni aproveitou ainda a ocasião para “congratular, em nome da Comissão, Mário Centeno pela sua resiliência, após cerca de 20 horas de reunião em diferentes dias”.

Caberá agora aos líderes europeus, que se deverão reunir nos próximos dias, acordar os detalhes deste fundo de recuperação, desde logo as fontes de financiamento, os aspetos jurídicos e ainda a sua relação com o orçamento da UE.

Esta reunião do Eurogrupo, que era considerada decisiva, teve início na terça-feira à tarde e foi suspensa ao início da manhã de quarta-feira, após 16 horas de discussões. Deveria ter sido retomada hoje às 16:00 de Lisboa, mas começou às 20:30, depois de horas de contactos à margem que permitiram ‘desbravar’ caminho para um entendimento, que Mário Centeno anunciava ser fundamental.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,5 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram quase 94 mil.

 

 

Lusa

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