O primeiro reitor da Universidade dos Açores, e um dos seus fundadores, José Enes, morreu na quinta-feira em Lisboa, tendo sido hoje lembrado por diversas personalidades como um dos maiores filósofos portugueses do século XX.
O ex-reitor da Universidade dos Açores Machado Pires defendeu hoje que a academia açoriana deve prestar a “homenagem devida” ao professor José Enes.
“A Universidade saberá decerto escolher o modo como o deve homenagear. Pode ser uma coisa pontual, agora, ou posteriormente, com uma relação e um estudo da própria obra escrita e filosófica do professor José Enes”, refere.
Machado Pires recorda que conheceu José Enes em Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores, quando o filósofo era professor do seminário local, estando ligado também ao Instituto Açoriano de Cultura, que publicava a reputada revista Atlântica.
“Era um intelectual de grande relevo na altura, um introvertido, estudioso, conhecia muito bem a cultura clássica e era um homem mais de pensamento do que ação, o que se refletia na sua ligação à própria Universidade dos Açores e à sua criação”, considera.
“Foi o professor José Enes que me confiou, com muita abertura, a mim e aos professores Fraga, Teodoro de Matos e Vasco Garcia, entre outros, a construção do edifício, em sentido figurado, de uma universidade”, recorda Machado Pires, concluindo que “tinha um grande nível e a sua tese de doutoramento (“Às Portas do Ser”) é um trabalho notável”.
O presidente do Governo dos Açores também já manifestou o seu “profundo pesar” pelo falecimento de José Enes, destacando, numa mensagem à família, que durante a sua “extensa e brilhante” carreira académica, bem como através do seu percurso cívico, tornou-se uma “figura incontornável” na criação e desenvolvimento do ensino superior nos Açores.
“Defendendo sempre com vigor e frontalidade as suas convicções, habituou-nos também a uma intensa atividade em prol de uma sociedade mais esclarecida e de uma democracia mais participada e consequente”, afirma Vasco Cordeiro.
Para o presidente do Governo dos Açores, é “com profundo pesar” que se regista esta “perda”, convicto de que a sua obra “continuará a influenciar positivamente” os que se dedicam ao pensamento filosófico e ao estudo do desenvolvimento dos Açores.
Natural das Lajes do Pico, José Enes, que faleceu com 89 anos, é considerado pelo escritor Miguel Real, na revista Nova Guia – Revista de Cultura para o Século XXI, o “mais importante pensador” açoriano depois de Antero de Quental e Teófilo Braga e um dos “mais importantes filósofos portugueses” do século XX.
José Enes, com formação em escolástica tomista pela Universidade Gregoriana de Roma (1945-1950 e 1964-1966), foi professor da Universidade Católica entre 1968 e 1973.
A partir de 1976, foi professor e primeiro reitor da Universidade dos Açores, jubilando-se como vice-reitor da Universidade Aberta (1992-1994).
José Enes foi agraciado, em 2007, pela Assembleia Legislativa Regional dos Açores com a Insígnia Autonómica de Reconhecimento.
Lusa