Maioria dos jovens portugueses não quer as grandes cidades

jovensOs jovens portugueses não idealizam o seu futuro nas principais cidades do país. O i ouviu a opinião de 180 cidadãos sobre o planeamento urbano e o futuro das cidades de Lisboa, Porto, Leiria e Faro e uma das principais conclusões do inquérito é que 70% dos jovens entre os 20 e 30 anos de idade têm projectos para abandonar a cidade nos próximos dois anos. São poucos os que vêem em Portugal uma perspectiva de futuro profissional e 69% elegem uma cidade estrangeira como opção de destino. Os restantes 17% ponderam a mudança para uma cidade mais pequena, vila ou aldeia e outros 14% fazem projectos para viver noutra cidade portuguesa.

Ana Almeida, 25, está desempregada. A jovem portuense diz ao i que “trabalha como jornalista freelancer nas horas vagas”. Porém, a incerteza profissional motivou uma mudança de planos, que passam por trocar a cidade nortenha por Berlim ou Madrid nos próximos dois anos. O distrito do Porto concentra um quarto dos desempregados, a taxa mais alta do país. Como mostram as estatísticas, os jovens da Invicta estão desmotivados com a falta de lugares. Paulo Pinto, tradutor, 27 anos, sublinha a boa qualidade de vida e o número de actividades culturais e sociais organizadas no Porto, o que não lhe retira a vontade de viver numa grande cidade europeia.

A socióloga e professora da Universidade Nova de Lisboa Margarida Marques acredita que o número de jovens que irá realmente abandonar o país será na realidade muito inferior. “Podem surgir oportunidades em Portugal. E mudar para outro país nem sempre é fácil, também pelos custos elevados que isso implica.” Porém, a socióloga avisa que mais de metade destes jovens (70%) pode concretizar a sua ambição e trocar Portugal por outro país. Com a crise, as perspectivas de criar um dinamismo económico que trave esta tendência são cada vez menores. “Muitos jovens com formação académica ao nível de mestrado e doutoramento não vão ser fixados só com a miragem de terem um emprego. Têm de ter emprego com qualidade e bom ambiente. Isso é muito importante”, sublinha.

Gonçalo, 28 anos, trabalha como consultor, mas pretende trocar Lisboa por uma metrópole mais competitiva. O projecto será concretizado nos próximos dois anos, diz ao i. Os motivos são a “procura de mercados de trabalho mais competitivos onde, em simultâneo, possa usufruir da vivência numa urbe mais moderna, organizada e mais cívica”. Se Lisboa e Porto não são compensatórias ao nível salarial e mostram pouca competitividade profissional, “muito menos o serão as cidades de menor dimensão”, defende Margarida Marques.

Também por isso, o mar e o sol de Faro já não são suficientes para atrair as camadas jovens. Pedro Abrantes, 29 anos, está a concluir o mestrado na capital algarvia, mas garante que o futuro passa por uma cidade fora de Portugal, pela falta de vagas de emprego na área de engenharia do ambiente. Os habitantes de Faro mostram-se sobretudo descontentes com a situação laboral na cidade e a inexistência de vagas em algumas áreas. A maioria dos jovens que responderam ao inquérito pretendem mudar de cidade nos próximos dois anos, metade para outra cidade do país e a outra metade para fora de Portugal.

Margarida Marques recorda que no início da década o Banco Mundial calculava que um em cada cinco jovens licenciados vivia fora de Portugal. “Temos a percepção de que uma parte significativa dessas pessoas têm menos de 30 anos”, revela. As conclusões do inquérito do i apontam para um aumento desse número. A emigração jovem acontece sobretudo nas maiores cidades para fora do país e até poderá ser compensada com a ida de jovens de cidades mais pequenas para essas metrópoles. No entanto, a concretizar-se o anseio destes 70%, 2011 e 2012 serão anos marcados pela grande fuga de massa jovem qualificada. A socióloga admite que o país não tem condições para travar esta tendência, mas a saída até pode ser benéfica a médio prazo, pois a representação portuguesa no contexto internacional poderá dar frutos: o regresso destes jovens ao país após essa experiência é positiva para Portugal, porque a rede de contactos estendida aos quatro cantos do mundo poderá, no limite, aumentar o volume de negócios nacional.

Desemprego aumenta insegurança Além de descontentes com o desemprego, os portugueses acreditam que o nível da insegurança nas cidades irá aumentar. Alguns comerciantes do centro de Lisboa estão preocupados com o aumento do número de assaltos. Filipe Vaz, 30 anos, empregado de balcão, garante que “Lisboa está a ficar mais perigosa”. Carlos Correia, 56, está desempregado e pretende abandonar Lisboa devido à falta de segurança e à instabilidade social. Em contrapartida, os indicadores do Gabinete do Coordenador de Segurança Nacional dão conta de um decréscimo de 3% da criminalidade no primeiro semestre de 2010.

 

Além da segurança física, o jurista Costa Pereira, de 78 anos, recorda que Lisboa tem grandes falhas sobretudo ao nível da protecção civil. “As pessoas têm falta de formação cívica. O conhecimento mínimo da linguagem para falar com um surdo-mudo, por exemplo, e a distinção entre o lixo orgânico e lixo reciclável. Tudo isto faz parte da formação e da segurança cívica dos cidadãos”, diz. Nas cidades mais pequenas, a preocupação com a segurança também é uma prioridade. Em Leiria, por exemplo, alguns dos habitantes ouvidos pelo i querem um reforço da segurança nos espaços de diversão nocturna.

in ionline ( por Cláudia Garcia)
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