Mais de cem filarmónicas activas no arquipélago

filarmonicaO gosto pela música nos Açores continua a passar de geração em geração, mantendo uma tradição que se traduz na existência de 106 filarmónicas dispersas pelas nove ilhas e que, além de escolas, funcionam como pólos de dinamização sócio-cultural.

 

Numa demonstração desse dinamismo, a cidade de Ponta Delgada promove hoje um espectáculo com oito bandas filarmónicas da ilha de S. Miguel, num espectáculo integrado nas comemorações do aniversário do 25 de Abril, que será precedido de um desfile nas Portas do Mar, a nova zona marítima da capital açoriana.

Desde o século XIX que as filarmónicas assumem nas ilhas uma relevante função cultural e social, inicialmente circunscrita aos homens, mas que foi sendo progressivamente alargada às mulheres.

A sobrevivência destas filarmónicas está assegurada devido à aposta das bandas na criação de escolas de música gratuitas para crianças e jovens.

Formada em 1846, a Filarmónica Triunfo da Ribeira Grande, da ilha de S. Miguel, é a banda mais antiga do arquipélago.

Apesar de já não ter uma actividade regular, os 35 músicos que a integram fazem questão de se juntar para tocar por alturas da festa religiosa de Nossa Senhora da Estrela.

O presidente da filarmónica, Ildeberto Garcia, assegurou à Lusa que existe um grupo de pessoas interessadas em reavivar a banda, que, ao longos dos seus 163 anos de existência, actuou em vários palcos regionais e internacionais e chegou a ter uma escola de música para estimular a renovação dos seus componentes.

Mais nova apenas oito anos, a Sociedade de Instrução e Recreio Amarense, da ilha de são Jorge, é a segunda banda mais antiga dos Açores, debatendo-se actualmente com a falta de instalações condignas para desenvolver a sua actividade.

“A actual sede não tem condições nenhumas de segurança para os músicos. Já tivemos que reforçar uma das vigas”, assinalou à Lusa o presidente da filarmónica, Fernando Soares.

A solução do problema parece estar, no entanto, próxima, já que, segundo Fernando Soares, dentro de “um a dois meses” a actual sede será demolida para permitir a construção de um novo edifício na freguesia de Santo Amaro, orçado em cerca de 300 mil euros.

Fernando Soares salientou que a nova sede vai proporcionar melhores condições para o ensino da música e para os ensaios da banda, que conta com 42 músicos no total, dos quais 14 são mulheres.

 

 

Desporto e Internet como adversários

 

A Internet e as modalidades desportivas são, para Fernando Soares, os grandes “adversários” das filarmónicas no presente, quando se fala em atrair crianças e jovens para a música, uma actividade que exige “dedicação e concentração”.

A escola de música da Sociedade de Instrução e Recreio Amarense está aberta devido a seis crianças que semanalmente ensaiam às terças e quintas-feiras, durante duas horas, e se deslocam na carrinha da banda.

A grande dor de cabeça desta filarmónica, uma das sete que existem no concelho das Velas, é a questão financeira, já que os encargos mensais rondam os 400 euros, o que obriga a direcção a ser criativa.

 

“A solução passa por apostar em actividades lúdicas como promover jogos de sueca e dominó, organizar festas na sede e abrir diariamente o nosso bar”, disse Fernando Soares.

A Direcção Regional da Cultura, contactada pela Lusa, referiu que as filarmónicas dos Açores não recebem uma verba anual para assegurar o seu funcionamento, existindo apenas apoios pontuais, destinados, essencialmente, à compra ou reparação de instrumentos, fardamentos e deslocações dentro e fora do arquipélago.

Apesar de todas as dificuldades, mantêm-se no arquipélago o interesse e o dinamismo das filarmónicas regionais, como prova a existência da Lira Açoriana.

Este grupo, composto por 102 músicos de bandas de todas as ilhas, com idades entre os 14 e 30 anos, foi formado há 11 anos, na sequência de um pedido da presidência do Governo Regional dos Açores durante a Expo98, que decorreu em Lisboa.

A formação da Lira Açoriana permitiu quebrar o isolamento das ilhas e desenvolver uma acção formativa de evolução das filarmónicas açorianas.

Os músicos desta orquestra regional ensaiam uma vez por semana, durante três a quatro horas, nas respectivas ilhas, reunindo-se uma vez por ano em estágio para aperfeiçoar a técnica e harmonizar o som.

 

 

 

 

 

in A União

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