“O homúnculo”, de Natália Correia, faz 50 anos e sobe ao palco pela primeira vez

natalia-correiaO Teatro Estúdio Fontenova estreia, na próxima sexta-feira, no Fórum Municipal Luísa Todi, a tragédia jocosa “O homúnculo”, de Natália Correia, texto publicado originalmente em 1965, de imediato proibido pela ditadura e que nunca foi levado à cena.

O diretor do Teatro Estúdio Fontenova e encenador da peça, José Maria Dias, disse à agência Lusa que a escolha desta obra de Natália Correia, para a companhia, se deveu a “felizes coincidências”, nomeadamente ao facto de o dramaturgo Armando Nascimento Rosa estar a escrever para a temporada 2016 daquele teatro e ser também um estudioso de Natália Correia.

“Além disso, este texto tanto pode ser lido à luz da sociedade existente na ditadura de Salazar como pode ser lido face aos dias de hoje, na medida em que os políticos, ainda que eleitos, acabam sempre por gorar as expectativas dos eleitores”, afirmou José Maria Dias.

O encenador acrescentou tratar-se de um texto que, à partida, não conhecia bem, motivo por que todos os elementos envolvidos no projeto andaram a estudá-lo, acabando por se render ao fascínio pela escrita de Natália Correia e pela sua riqueza.

Publicado em 1965 pela editora Contraponto, de Luiz Pacheco, com quatro ilustrações de Natália Correia, “O homúnculo” é um texto sobre a sociedade portuguesa no tempo de Salazar.

A obra foi apreendida pela PIDE, a polícia política da ditadura, em 1965, logo na primeira edição.

A ação decorre no palácio de el-rei Salarim – nome que a escritora utilizou para parodiar Salazar -, senhor absolutíssimo de Mortocália, epónimo com que Natália designou Portugal na peça.

É um reino onde o absolutismo é levado ao extremo por Salarim na medida em que proíbe os súbditos do ato de urinar, numa metáfora explícita ao sexo.

Também a igreja católica aparece caricaturada nesta tragédia jocosa de Natália, na figura do Bispo que satiriza o cardeal Cerejeira, patriarca de Lisboa, na época em que a peça foi escrita, amigo de Salazar e seu companheiro no Centro Académico da Diocese de Coimbra, desde os anos de estudo na cidade.

Com dramaturgia de Armando Nascimento Rosa, “O homúnculo” sobe ao palco do Fórum Municipal Luísa Todi na sexta-feira, 20 de março, no sábado, 21, e no domingo, 22 de março, sendo a estreia seguida da apresentação do caderno de encenação editado pela Redil Publicações, no ano em que passam 50 anos sobre a publicação da obra original.

Com interpretação de Bruno Moraes, Eduardo Dias, Ricardo Guerreiro Campos e Sara Costa, “O homúnculo” tem cenografia de Ricardo Guerreiro Campos, figura de Zé Nova, música original de Bruno Moraes e Armando Nascimento Rosa, e conta com a colaboração do Coral Infantil de Setúbal.

 

Lusa

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