Piedade Lalanda sublinhou que a violência “tem um campo favorável” para se desenvolver “nestes contextos de desigualdade e sobretudo desigualdade de género” e defendeu que no combate ao fenómeno o aumento das denúncias é “um sinal de vitória”.
“Pode parecer estranho dizer isto, mas o primeiro combate contra a violência é o combate contra o medo, contra o silêncio que envolve as vítimas”, disse, frisando que as denúncias permitem “trazer para a praça pública o mundo privado, violento, que revela um outro lado das chamadas famílias de fachada que escondem vidas dramáticas por detrás das aparências”.
Afirmando que as vítimas são “sobretudo mulheres, na sua grande maioria casadas, entre os 25 e 44 anos e os agressores homens casados entre os 30 e 49 anos, companheiros, maridos ou namorados destas vítimas”, alertou que o fenómeno “está enraizado num modelo de sociedade onde perdura uma relação conjugal desigual entre homens e mulheres, onde a dependência da sujeição toma o lugar da autonomia e da dignidade pessoal”.
A secretária regional da Solidariedade Social lembrou que a região tem desde 1997 casas abrigo e uma rede integrada de apoio à vítima de maus tratos extensiva a todas as ilhas, referindo ainda o Plano Regional de Combate à Violência Doméstica, em avaliação, e os Polos de Prevenção.
“Há uma solução de emergência em todas as ilhas para situações de violência doméstica”, disse, acrescentando que a campanha de prevenção e combate à violência no namoro terá em atenção o papel das redes socais.
Em declarações aos jornalistas, Piedade Lalanda admitiu ainda que em situações de crise as vítimas possam ter “alguma resistência” em abandonar a casa familiar, pelo que a intervenção ao nível das “relações conjugais” é de extrema importância.
Gilberta Rocha, diretora do Centro de Estudos Sociais da Universidade dos Açores, sublinhou à Lusa que as denúncias de violência doméstica são atualmente “mais significativas”, o que se fica a dever “à rejeição que a sociedade tem do fenómeno” e à “existência de estruturas de apoio às vítimas”.
O ciclo de debates “Retratos da Violência Doméstica” teve por base um estudo realizado pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade dos Açores.
Este ciclo de debates, organizado pelo Centro de estudos Sociais da Universidade dos Açores, em parceria com o núcleo regional dos Açores – Associação Portuguesa de Sociologia, contou também com a colaboração de várias entidades que trabalham a problemática.
Lusa