Pintou até que ELA o deixou – um testemunho de força

antonio-cavacoPintor por paixão, António Cavaco Silva inaugurou esta segunda feira no Hospital da Luz, em Lisboa, uma exposição de aguarelas. Objectivo: ajudar os que, como ele, sofrem de doença neurodegenerativa rara.

 

Pinta desde a juventude, sem nunca ter feito um único curso. Aprendeu tudo o que sabe sozinho, visitando exposições e museus, e arriscando técnicas que nunca ninguém lhe ensinou. Pintou a óleo, acrílico e aguarela e nunca deitou nada fora: tem mais de mil desenhos e quadros, mas só em 2002, incentivado por um amigo, aceitou mostrar publicamente o seu trabalho.

 

Tinha 55 anos e fora-lhe diagnosticada ELA (esclerose lateral amiotrófica), uma doença neurodegenerativa rara, que António Cavaco Silva, hoje com 62 anos, sabia que um dia o ia impedir de se dedicar ao maior de todos os seus prazeres.

 

Quando foi confrontado com ELA, doença que até então desconhecia, António, engenheiro electrotécnico numa empresa do grupo Siemens e irmão do presidente da República, decidiu continuar a trabalhar. Mas em 2005, quando ELA o começou a impedir de conduzir e a atrofiar os músculos, decidiu que era tempo de parar e de se dedicar “a 100% à pintura”.

 

Passou a pintar diariamente, “com toda a força”. “Sempre tive curiosidade de saber até quando o iria conseguir fazer”, conta, em sua casa, a propósito da exposição “Paisagens de Luz”, que agora inaugura no Hospital da Luz, em Lisboa: um conjunto de 20 aguarelas (das últimas que conseguiu pintar), cujas vendas irá entregar parcialmente à Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica (APELA), que António gostava de ver mais apoiada para poder ajudar os doentes e suas famílias.

 

Houve uma altura em que só assinava os quadros com o nome e o ano. “Depois, passei a pôr o ano e o mês, depois também o dia. Os últimos quadros já não estão assinados porque já não o conseguia fazer”. Foi a mulher, Helena, que escreveu no verso a data da última aguarela: 28 de Agosto de 2008. Título: “Caminho do Sol, Caminho para a eternidade”.

 

António mostra-se sereno. Diz que aprendeu a viver com ELA “um dia de cada vez” e a definir objectivos a curto, médio e longo prazos e a adaptá-los sempre que não os consegue atingir. Às vezes emociona-se. “Esta doença é incapacitante e tem uma coisa que é dramática: afecta todos os músculos, mas não afecta o nosso cérebro. As pessoas estão sempre conscientes”. Refém dos outros para se movimentar, António deixou de pintar.

 

Dedica-se agora à leitura, à música e à meditação. E acredita na energia positiva: os seus pensamentos têm-no ajudado a protelar o avanço da doença.

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