Pónei da Terceira reconhecido como raça, após ameaça de extinção

Foto Lusa

Pónei da Terceira foi reconhecido como raça autóctone há poucos dias, mas para trás ficam 14 anos de recuperação de um cavalo que esteve em vias de desaparecer por uma equipa da Universidade dos Açores liderada por Artur Machado.

Aquela que é agora a quarta raça de cavalos em Portugal, desenvolvida na ilha Terceira, nos Açores, distingue-se por ter as dimensões de um pónei mas as características morfológicas de um cavalo.

“É de facto diferente dos outros póneis. Normalmente temos a imagem de um pónei daqueles animais que vemos no circo, muito redondinhos, perninhas curtas. Este não. Tem a fisionomia de um cavalo”, explicou, em declarações à Lusa, Artur Machado.

Em resumo, salientou, é “um cavalo em ponto pequeno” e apesar da dimensão tem “ótimos andamentos” e é “muito equilibrado”.

Artur Machado aprendeu a montar numa égua desta raça, quando vivia ainda na ilha de São Miguel, de onde é natural.

Quando tinha quatro anos, um tio que morava na ilha Terceira ofereceu-lhe a égua “Estrelinha”, um “cavalinho da Terceira”, como lhe chamavam na altura, que foi “parceira” das suas aventuras de criança.

Anos mais tarde, quando integrou o Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, no polo de Angra do Heroísmo, procurou na ilha Terceira a raça que conhecia desde criança, mas encontrou poucos animais.

Decidiu, então, “tentar agarrá-los para que não desaparecessem de vez” e com as recordações da infância e alguns exemplares iniciou o projeto de recuperação da raça.

O investigador, que lidera também o Centro de Biotecnologia dos Açores, recolheu os animais com as caraterísticas do Pónei da Terceira e aumentou o efetivo, até que há dois anos reuniu condições para pedir o seu reconhecimento como raça autóctone.

Segundo Artur Machado, o Pónei da Terceira foi selecionado de forma empírica pela população da ilha ao longo de vários séculos.

O professor acredita que o processo foi “natural”, porque há cerca de seis séculos, quando os Açores foram povoados, os cavalos da Península Ibérica eram “mais pequenos” e os melhores exemplares não eram colocados em caravelas.

“É lógico pensar que não se iria pôr numa caravela cavalos de grande porte, porque iriam precisar de muito mais espaço, de muito mais alimentação, eram cavalos mais valiosos e portanto os riscos da viagem eram enormes”, explicou.

Apesar de pequenos, os Póneis da Terceira são “muito robustos”, têm “imensa resistência” e “ótimos andamentos”, por isso, transformaram-se em autênticas “máquinas agrícolas” na ilha.

“Para a agricultura eram muito mais úteis, para sachar o milho”, salientou o docente da Universidade dos Açores, explicando que para a tarefa não eram necessários animais de grande porte e as distâncias eram reduzidas.

Os póneis faziam também distribuição de mercadorias, como lenha, peixe ou pão e Artur Machado ainda conseguiu encontrar alguns carros puxados a cavalo, com as dimensões dos póneis, que o comprovam.

Com o aparecimento de máquinas na agricultura, a raça foi perdendo utilidade e foram poucos os terceirenses que os mantiveram, mas os poucos que o fizeram permitiram que o Pónei da Terceira fosse recuperado.

 

Lusa

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