Tradição dos amigos, amigas, compadres e comadres privilegia interação e fortalecimento de amizades

As quintas-feiras que antecedem o Carnaval nos Açores convocam amigos, amigas, compadres e comadres para um almoço ou jantar, uma tradição peculiar que, além de festejar a época carnavalesca, assinala a amizade e fortalece a interação social.

“É uma tradição que preza a união e a interação entre as pessoas, neste caso vivenciar, nas suas quatro semanas anteriores, provavelmente aquilo que seja a folia do Carnaval”, explicou à Lusa o sociólogo Miguel Brilhante.

Um pouco por todos os concelhos dos Açores, as quintas-feiras que antecedem o Dia de Entrudo juntam centenas de pessoas, primeiro na celebração do Dia de Amigos, seguindo-se o das Amigas, depois os Compadres e por último as Comadres.

As comemorações tem ganho de ano para ano cada vez mais adeptos e dinamismo, mas prevalece sempre um dado curioso e “singular”: a separação dos sexos e dos géneros.

“São quatro elos de interação muito importantes que fazem parte da proximidade interpessoal dos indivíduos”, referiu o sociólogo, ao analisar o fato de a celebração de amigos ser restringida a grupos de homens e das amigas a mulheres.

Segundo Miguel Brilhante, “acabam por ser sempre grandes laços de proximidade entre as pessoas, mas o que carrega mais unicidade desde fenómeno é a separação dos sexos, dos géneros, fazendo convívios em que são partilhados com amigos e na semana seguinte com as amigas e depois os compadres e as comadres”.

“E é curioso verificar que, quer no jantar de amigos ou no dia das amigas as pessoas, transformam-se como se o mundo fosse daquele sexo naquele dia”, referiu.

Embora não exista uma data precisa da introdução daqueles festejos, a tradição aponta para o fato de ser “secular”.

Para assinalar a data, restaurantes e bares organizam almoços e jantares especiais, mas a tradição tem também vindo a sofrer algumas alterações associadas às ofertas dos tempos modernos, com a realização de espetáculos de striptease masculinos e femininos.

Miguel Brilhante sublinhou ainda os efeitos transversais que a realização deste tipo de eventos provoca junto dos empresários locais.

“Podemos verificar que esta tradição convoca a pessoas a todas as quintas-feiras a um almoço, um jantar e depois associar a estes tipos de festejos extras que ou são mais interativos ou mais seletos ou fora do contexto que qualquer um consegue dinamizar no seu dia a dia”, acrescentou.

Para o sociólogo, trata-se de “uma particularidade histórica com repercussões sociais interessantes”, quer seja no dia dos Amigos ou Amigas, mas ambos dando importância ao “papel e continuidade da amizade”.

“Nestas comemorações acaba por haver uma animação preliminar da qual a amizade e a proximidade entre as pessoas têm um peso fundamental, que até pode ser encarado como uma preparação para a grande festa do Carnaval”, segundo o sociólogo.

 

Lusa

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