Artigo de Opinião | “NÃO “PAPO” A SEDUÇÃO DAS QUATRO DA TARDE” por Filipe Tavares

Foto - Andreia Luís
NÃO “PAPO” A SEDUÇÃO DAS QUATRO DA TARDE
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Sr. Diretor Regional da Saúde e Autoridade Regional de Saúde, Enfermeiro Tiago Lopes
Estamos há 15 dias a assistir a um disco riscado! Só muda mesmo os números, as justificações e as blusas que veste. Apesar de tarde, responderam positivamente ao apelo popular com medidas de restrição dos voos e confinamento obrigatório de passageiros.
Antes de avançarmos, deixe-me dizer-lhe que sou daquelas pessoas que não se deixa seduzir às quatro da tarde.
Quero lembrar-lhe que a situação nos Açores está cada vez pior e a culpa não é apenas da população negligente e inconsciente, é também da Autoridade Regional de Saúde que tem o dever de garantir a segurança dessas pessoas. Custe o que custar.
As pessoas que estão há 15 ou mais dias em quarentena começam a questionar-se até quando? Vão ter de fazer as quarentenas dos outros todos que não as fazem? Devia ter sido um por todos e todos por um… faltou isso.
As cadeias de transmissão local foram iniciadas por falta de cumprimento de quarentenas mas sobretudo por falta de medidas preventivas concretas e eficazes por parte da Autoridade Regional de Saúde, como por exemplo colocar os casos positivos e suspeitos confinados em Hotel com a PSP à porta, tal como já foi recomendado. Vai continuar a arriscar? Para mim está a arriscar há demasiado tempo! Aprendi bem cedo que mais vale prevenir que remediar.
Vai continuar a tentar perceber como se comporta o vírus, tal como disse no briefing de 28 de Março, ou não lhe bastam os exemplos devastadores que chegam de todo o mundo, especialmente de Itália e Espanha? Vai começar a demonstrar uma atitude preventiva como deve ser ou vamos continuar a assistir a esta espécie de totoloto diário?
Somos açorianos, vivemos em ilhas, se há algo que conhecemos bem é o isolamento, temos tudo para vencer este COVID-19. Por isso pergunto, a Autoridade Regional de Saúde vai continuar a reagir apenas depois do “caldo entornado” ou vai começar a evitar o prejuízo? Com o COVID-19 nunca é cedo para agir, a situação requer ações duras no terreno, com força, com tudo menos as “continhas” de somar, porque estas são cada vez mais assustadoras e demonstrativas das falhas.
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RECOMENDAÇÕES DOS ÚLTIMOS 15 DIAS:
1º Fechem as localidades
Fechar uma localidade que já tinha casos positivos e suspeitos só depois do “caldo entornado” demonstra bem a falta de estratégia preventiva da Autoridade Regional de Saúde. Não estão a acautelar a nossa segurança. Não estão a aproveitar o reduzido número de casos confirmados para conter o vírus. Estão a arriscar e isso é evidente e incongruente quando olhamos a outras medidas tomadas pelo Governo. É urgente isolar todas as comunidades (mesmo que agrupando freguesias) para impedir o surgimento de cadeias de transmissão local. A divisão e controle territorial será fundamental em todas as etapas desta crise pandémica: contenção do vírus / introdução de cercas sanitárias / distribuição de bens de consumo e medicamentos / segurança das populações / aplicação de testes de forma metódica e eficaz.
2º Coloquem a Polícia e Militares na rua e criem fronteiras entre as localidades
É fundamental conter todas as movimentações desnecessárias e abusos da população. As forças de segurança  irão controlar o abastecimento das comunidades e deverá ser privilegiado o comércio local.
3º Alojem os casos positivos e suspeitos em hotéis com a vigilância permanente da PSP
É a única forma de impedirmos a transmissão local do coronavírus. Se estas pessoas forem colocadas nas suas residências poderão contagiar a suas famílias e consequentemente a comunidade / ilha de residência. Já houve vários casos de violação de quarentena e transmissão local nos Açores.
4º Apliquem a Quarentena Geral Obrigatória
É única forma de contermos o vírus, protegermo-nos uns aos outros e salvaguardarmos a capacidade de resposta do Serviço Regional de Saúde. Vamos proteger os nossos profissionais de saúde. Só devem ficar ao serviço os trabalhadores que garantem a subsistência e proteção da população. Vamos respeitar essas pessoas que em vez de estarem a proteger as suas famílias estão no terreno, a garantir que nada nos falte e que tenhamos proteção.
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Nos últimos 15 dias tenho alertado insistentemente para a necessidade estratégica de garantirmos que pelo menos 6 ilhas dos Açores (cenário realista) fiquem livres de COVID-19 (COVID FREE).
Dado o baixo número de casos positivos, suspeitos ou sob vigilância activa existentes no Corvo, Flores, São Jorge, Pico, Graciosa e Santa Maria, é possível, através do confinamento obrigatório em unidades hoteleiras com vigilância assegurada pelas forças de segurança, impedir a ocorrência de transmissão local do coronavírus. Esta medida é altamente estratégica, pois nenhuma destas ilhas possui Hospital e deste modo reduz-se a probabilidade de ocorrerem evacuações, que por sua vez são procedimentos complexos, perigosos e altamente dispendiosos.
Ilhas COVID FREE darão esperança e vão entusiasmar as populações das localidades isoladas! Haja coragem de agir a tempo e com objectividade!
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Filipe Tavares
ARTAC – Associação Regional para a Promoção e Desenvolvimento Sustentável do Turismo, Ambiente, Cultura e Saúde
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