Infecções urinárias: Metade das mulheres açorianas sofre da doença

infecaao-urinariaUma em cada duas mulheres açorianas sofre de infecção urinária. Em 90% dos casos, essa infecção não passa disso mesmo, segundo o médico urologista Fragosos Rebimbas, mas há situações em que degenera para a sepsis, que é uma condição médica severa, geralmente causada pela presença de um agente infeccioso na corrente sanguínea. A sepsis tem sido identificada em diversos estudos epidemiológicos como sendo a principal causa de morte nos doentes críticos e se não for tratada, vai evoluindo, acaba mesmo por destruir os órgãos vitais e pode levar à morte. Mesmo que a sepsis seja rara, o facto é que todo o cuidado é pouco.

 

 

Nos Açores, a infecção urinária afecta uma em cada duas mulheres. Um cenário em tudo idêntico ao nacional. As infecções urinárias em mulheres “são, regra geral, do trato urinário baixo, ou seja, cistites que se manifestam por um quadro de irritação, com ardor, dores da região pélvica e vontade muito frequente de urinar (por vezes, com sangue na urina). A cistite bacteriana, o tipo mais comum, o qual geralmente é causada por bactéria coliforme sendo transferida do intestino para a bexiga através da uretra” – segundo refere ao “Correio dos Açores” o médico urologista Manuel Fragoso Rebimbas.
“As causas são várias, mas a mais importante é o facto de a mulher ter uma uretra curta e em contacto com a vulva vaginal que é a maior parte das cistites a fonte das bactérias que vão infectar a bexiga” – adianta o médico.
Quanto às consequências que uma infecção urinária pode trazer a uma mulher quando não é tratada, Fragoso Rebimbas refere que “se a infecção é alta, ou seja, chega aos rins por via ascendente (Pielonefrite) é muito mais grave e dá um quadro de dor mais forte, com urina turva, gerando geralmente febres altas (39,5º a 40º). Desta infecção é que pode resultar um quadro séptico ou sepsis, que não é mais do que a disseminação da bactéria em causa no sangue e a sua colonização de todos os departamentos do organismo, levando se não for tratada a tempo e horas, ao choque séptico, com influência sobre todas funções orgânicas e à morte, se não for tratada”.

 

 

Mas, afinal, o que é a sepsis?

A sepsis não é mais do que uma condição médica grave, caracterizada por uma resposta inflamatória sistémica (Síndrome de Resposta Inflamatória Sistémica), geralmente causada pela presença de um agente infeccioso na corrente sanguínea. A Sepsis tem sido identificada em diversos estudos epidemiológicos como sendo a principal causa de morte nos doentes críticos e se não for tratada, vai evoluindo e acaba por destruir os órgãos vitais, podendo causar mesmo a morte.
“Qualquer infecção pode evoluir para septicemia. No entanto, acontece sobretudo em doentes diminuídos nas suas resistências, como os que têm sida e diabetes, ou que sofram de alcoolismo, toxicodependência e malformações congénitas graves e em que as bactérias são altamente virulentas. Por um lado, é preciso ter em atenção que estas pessoas têm as suas resistências diminuídas e, por isso, podem sofrer mais com este problema. Por outro, não podemos esquecer a virulência da bactéria (a agressividade da bactéria e/ou bactérias) ” – refere o médico.

Batimentos rápidos do coração, respiração acelerada e febre

Inicialmente, o processo inflamatório é marcado por batimentos rápidos do coração, respiração acelerada e febre. O tratamento passa por antibióticos e corticóides, podendo, em alguns casos, haver necessidade de tratamento hospitalar.
Além dos casos referidos pelo médico Fragoso Rebimbas, os idosos aparecem como um dos grupos de risco nos casos de sepsia, o mesmo acontecendo com os doentes de leucemia, que, quase sempre, têm de fazer medicação preventiva, uma vez que o seu sistema imunitário está debilitado. Os doentes que estão internados nas unidades de cuidados intensivos também considerados como grupo de risco.
Se bem que as infecções urinárias sejam apontadas como as que mais frequentemente originam a sepsis, este problema pode ocorrer igualmente como um abcesso, uma infecção pulmonar (pneumonia), intestinal ou renal.
A única forma de diagnosticar uma infecção do género é através de análises laboratoriais.

 

Diminuição grave da qualidade de vida
 
Ainda recentemente, no congresso da Associação Portuguesa de Neuro-Urologia e Uro-Ginecologia (APNUG), foi referido que a infecção urinária provoca a perda de “inúmeras” horas de trabalho e a “diminuição grave” da qualidade de vida.
Dados desta mesma associação referem que uma em cada duas mulheres em idade sexualmente activa tem uma infecção urinária por ano, sendo responsáveis por cerca de 32 mil consultas anuais, 13 mil das quais no âmbito da urologia.
Os mesmos dados adiantam que quem contrai uma infecção urinária tem 25 por cento de probabilidade de voltar a ter outra.

 

 

O caso da modelo brasileira
O caso mais mediático sobre questões ligadas a uma infecção urinária é recente. Uma modelo brasileira de 20 anos, finalista do concurso Miss Mundo, foi amputada às mãos e aos pés, na sequência de uma infecção urinária que se agravou e se propagou aos membros. A modelo acabou por morrer.
Depois de lhe ter sido diagnosticada uma cólica renal, Mariana Bridi foi medicada e melhorou. No entanto, dois dias mais tarde as dores voltaram e a 3 de Fevereiro voltou ao hospital, tendo ficado internada quando lhe foi diagnosticada uma infecção urinária, que viria a transformar-se numa infecção generalizada.
Segundo os médicos, Mariana sofreu um choque séptico provocado por bactérias pseudomonas aeruginosas, resistentes a antibióticos. Além disso, começou a sofrer de uma insuficiência renal aguda, que provocou a compressão dos vasos sanguíneos periféricos e provocou a morte das células das mãos e dos pés.
O caso da modelo brasileira é raro. Os médicos dizem que as bactérias que atacaram a Mariana existem no corpo de todas as pessoas sem causarem problemas. Porém, em casos excepcionais e quando há predisposição essas bactérias tornam-se perigosas.

 

 
Sepsis mata centenas de portugueses

A sepsis, como já foi referido, pode ter várias origens, sendo certo que a sobrevivência do doente depende sempre da agressividade da bactéria que causou a infecção e do sistema imunitário da pessoa, assim como da demora do diagnóstico e da terapêutica.
Na maior parte dos casos, a doença revela-se fatal. A título de exemplo, refira-se que, em Portugal e de acordo com os últimos dados oficiais disponíveis, esta doença causou, em, 2005, a morte a 825 pessoas.
Os especialistas alertam para os riscos que determinadas bactérias representam para o organismo humano, uma vez que extremamente agressivas e resistentes aos antibióticos, como é o caso da espécie pseudomonas aeruginosa (pouco frequente). O mesmo se passa com as bactérias mais vulgares do género estafilococos.
O facto é que, e tendo em conta que se está perante agentes multirresistentes à penicilina, são poucas as soluções terapêuticas existentes.
Os especialistas defendem que é necessário que as defesas do organismo estejam reforçadas e sublinham que uma pessoa que tenha o sistema imunitário debilitado está automaticamente apta a ver criadas as condições para que uma infecção se generalize de forma mais grave e sem condições para a combater.
E existem vários factores que contribuem para enfraquecer o sistema imunitário. Por exemplo, a toma de alguns medicamentos e as dietas alimentares.

 

 
Como se apanha uma infecção urinária?
No aparelho urinário, normalmente não existem quaisquer micróbios, contrariamente ao que se passa noutros aparelhos em comunicação com o meio exterior. Sendo assim, no intestino e na vagina existem normalmente micróbios (a respectiva flora) os quais nesses meios não são habitualmente perigosos e não provocam infecção, mas que noutros meios, nomeadamente no urinário, o podem fazer.
A infecção urinária é definida como “a invasão e multiplicação de bactérias na urina do aparelho urinário, e a respectiva inflamação causada na bexiga e/ou nos rins. As bactérias mais frequentemente causadoras de infecção do aparelho urinário são as Escherichiae coli (Colibacilo), as Klebsielae e os Proteus, todas componentes da flora intestinal e muitas vezes presentes no meio vaginal”.
A forma de infecção mais frequente é a via ascendente: “As bactérias existentes no recto, ânus e vagina, penetram ascendentemente no aparelho urinário através da uretra, apesar da normal existência de mecanismos de defesa de vária ordem, sobretudo da uretra e da bexiga. Evidentemente que os hábitos e as doenças que comprometem estes mecanismos de defesa ou estimulam a agressividade das bactérias podem ser factores predisponentes. Exemplo disso são a diminuta ingestão de líquidos, condicionando hiperconcentração urinária, o esvaziamento vesical incompleto e pouco frequente, as doenças que provocam obstrução urinária, certas manobras ou tratamentos agressivos com invasão do aparelho urinário ou alteração da flora microbiana periuretral, etc. As outras vias de infecção do aparelho urinário, com micróbios provenientes de outro foco ou local através do sangue, da linfa ou por contiguidade, são possíveis mas bastante raros”.
As infecções urinárias são mais frequentes nas mulheres porque “no sexo feminino existe o reservatório vaginal junto da desembocadura da uretra, e porque a uretra tem um cumprimento muito curto e sem a protecção de algumas secreções fortemente antibacterianas (como é o caso das secreções prostáticas nos homens), as infecções urinárias são muito mais frequentes no sexo feminino do que no sexo masculino. Também a frequência das infecções urinárias é variável com a idade, havendo algumas doenças próprias da infância (malformações congénitas) ou de velhice (atrofias epiteliais, tumores da próstata no homem) que podem ocasionalmente aumentar a sua frequência. Mas é sobretudo nas mulheres adultas sexualmente activas (e eventualmente grávidas) que este problema das infecções urinárias é frequente e comum”.
Uma coisa é certa. Muitos especialistas defendem que “as infecções urinárias não são contagiosas e não se “apanham” nos sanitários, embora esses receios sejam comuns entre muitas pessoas. Também não são doenças de transmissão sexual, embora a vida sexual seja um factor predisponente no sexo feminino”. 

 

 

 

in Correio dos Açores / Lubélia Duarte

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