Procura do tradicional galo capão pelo Natal duplica nos Açores

Cada vez mais açorianos procuram o galo capão, criado no concelho do Nordeste, para a noite de consoada, tendo as encomendas duplicado este ano face a 2022, atingindo as 300 unidades, num quadro de produção insuficiente face à procura.
O único produtor de capão do Nordeste, na ilha de São Miguel, Norberto Bernardo, refere à agência Lusa que a procura pelo animal “tem vindo a aumentar muito” devido à sua divulgação por parte da Câmara Municipal, no âmbito de uma parceria com os restaurantes do concelho.
O produtor recorda que a Câmara Municipal do Nordeste promoveu uma iniciativa para “recuperar e valorizar um dos pratos tradicionais do Nordeste, o galo capão, introduzindo-o nas ementas dos restaurantes do concelho”, que servem o prato no domingo, durante o mês de novembro.
O galo capão surge em alternativa ao peru, tradição introduzida nos Açores pela presença norte-americana na base das Lajes e em função da emigração açoriana nos Estados Unidos.
Norberto Bernardo criou um determinado número de galos capão este ano, mas “a sua procura está muito acima do previsto”, daí a necessidade de incrementar a produção.
Nesta quadra festiva, o produtor de capão refere que “a procura pelo Natal duplicou para cerca de 300 unidades, sendo as encomendas feitas por pessoas de Ponta Delgada, Ribeira Grande e Vila Franca do Campo”, entre outras.
“Se tivesse mais animais mais venderia”, afirma, acrescentando que pretende aumentar a produção face ao aumento da procura que se tem vindo a registar.
De acordo com Norberto Bernardo, o galo capão é capado com cerca de quatros meses, sendo abatido com cerca de oito meses, custando 12 euros o quilo, e “pesando um exemplar entre três quilos e meio a quatro quilos e meio”.
Também em declarações à Lusa, Bob Cardoso, de um dos restaurantes do Nordeste, refere que a “visibilidade que se deu ao galo capão aumentou a procura pelos restaurantes locais”.
Segundo o empresário da restauração, “muitos dos senhorios, naturais de Ponta Delgada, davam a explorar em termos agrícolas as suas terras no Nordeste e, como cortesia, os rendeiros criavam um galo capado durante o ano para oferecer pelo Natal, como reconhecimento, para além da renda”.
“Muitos senhorios de Ponta Delgada vinham receber as rendas em novembro e, nessa altura, já levavam o capão, que tratavam para o natal”, explica o empresário, que ressalva que “existiam muitas casas com capão para consumo próprio em alternativa ao porco”.
Bob Cardoso refere que, depois de capado, o animal engorda, uma vez que “fica mais manso e a única coisa que faz é comer e deitar-se”, ficando “limitado a um espaço exíguo para ganhar mais peso”.
“A textura da carne do capão é diferente, bem como o teor de gordura, o que se nota no prato”, uma vez que a “carne é mais apelativa por ser mais clara e mais macia” do que o peru, cuja “carne é mais seca”, explica.
De acordo com os registos históricos, a tradição do galo capão terá surgido na China, na Grécia e em Itália, mas desconhece-se como foi introduzido na ilha de São Miguel.
Em declarações à Lusa, o historiador José de Almeida Mello, natural do Nordeste, disse que, face à ausência de elementos históricos, que não tem “conhecimento sobre a tradição e origem do galo capão no concelho, onde este existe já há muitos anos”, sendo “único na ilha de São Miguel”.
“Julgo que esta tradição do capão deve ter existido no passado em outras localidades da ilha de São Miguel mas, por alguma razão, foi desaparecendo e conservando-se unicamente no concelho do Nordeste, sendo hoje um bem patrimonial na gastronomia local”, afirma o investigador.

 

 

Lusa

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