Um presépio de miolo de figueira, feito no Faial, é um dos seus preferido

presepio-fernando-canhaFernando Canha da Silva tem peças provenientes de várias partes do mundo, adquiridas aos mais variados preços. Tradição do presépio é de família  e já vem de criança.

 

Não é fácil adivinhar o material de que é feito um dos presépios favoritos de Fernando Canha da Silva: miolo de ramos de figueira. “É uma peça de um rigor espectacular”, diz. Após um longo período de “namoro”, foi comprado a uma artesã da ilha do Faial e hoje assume um lugar de destaque na colecção de mais de 1800 presépios que o major general do Exército, de 68 anos, reúne na sua casa, em Évora.

 

A este presépio original juntam-se outros onde foram utilizadas matérias-primas imprevistas: dente de cachalote, corno de boi, massa de pão cozida no forno, ovo de avestruz e fósforos, por exemplo. Uma variedade praticamente “inesgotável”, à semelhança da “criatividade dos artesãos”.

 

“Os presépios africanos são quase todos de madeira, como o pau-preto e o pau-rosa”. Muitas vezes esculpidos com recurso a um simples canivete ou lâmina de barbear. “Presépios de barro de África só tenho quatro ou cinco”, diz Fernando Canha da Silva, acrescentando que muitas peças da sua colecção são feitas em barro, noutras foram utilizados metais, como prata, chumbo ou estanho. Há ainda presépios em vitrais, papel, marfim ou massas acrílicas. “De ouro é que ainda não tenho nenhum.”

 

À semelhança de anos anteriores, o coleccionador emprestou este Natal diversos presépios para exposições em diversos pontos do país: os africanos estão em Santo Tirso, alguns europeus na Capela de Santo António, em Portel, e os alentejanos no Centro de Artes Tradicionais de Évora. “É uma exposição bonita que dá uma mostra do que se faz aqui no Alentejo.”

 

Fernando Canha da Silva, que hoje já está na reforma, começou a colecção há 37 anos quando, recém-chegado a Évora depois de uma missão militar na Guiné, comprou uma primeira peça feita por um artesão de Estremoz. A paixão pelos presépios, no entanto, era bem mais antiga. “Eu e a minha mulher somos católicos. Na infância, na catequese, ajudávamos a fazer o presépio, tal como em casa. Depois nasceram os filhos e manteve-se o hábito. Há uma tradição familiar em torno dos presépios.”

 

Presença habitual em diversas feiras do País, onde faz questão de conhecer pessoalmente os artesãos a quem compra as peças, Fernando começou, aos poucos, a ter as paredes de casa decoradas com presépios, colocados em móveis, alguns feitos propositadamente para acolher a colecção.

 

Em 1999 aventurou-se na primeira exposição, no claustro da Messe de Oficiais de Évora, situada no antigo Convento da Graça, por ocasião duma reunião de comandos do Exército e de um jantar de Natal promovido pelo Chefe do Estado-Maior do Exército.

 

“Não tinha muitos presépios na altura, cerca de 180. Foi uma exposição muito bonita que mereceu um carinho especial da população”, diz, acrescentando que recebeu vários incentivos. “Pensava que as pessoas não se interessavam por este tema e tive de reconhecer que estava errado. Gostaram e isso tocou-me. Foi a pedra de toque para o início da colecção”.

 

A partir daí, começou a “aumentar o património” e a expor de forma regular. Após dez anos, multiplicou por 10 o número de peças, adquiridas por variados preços e em diversos países, incluindo alguns onde a religião católica é seguida por uma minoria, como Marrocos. “Basta haver uma comunidade cristã, por mais pequena que seja, e lá está o presépio”.

 

A nível nacional, reconhece ter uma “boa cobertura” dos presépios feitos nas mais diversas regiões: “É difícil aparecer um artesão de quem eu não tenha peças”.

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